sábado, 17 de abril de 2010

Cap.IV




Agitou-se, contorceu-se melodicamente ao longo do baforar do meu toque letal.A pele luzidia como se de cristais de tratassem, brilhava subtilmente, os olhos escusavam o alerta, escusavam o trémulo despertar, não seria o sofrimento mais agradável na inacessibilidade de um sono permanente?


Creio que sim, não se trata de um favor que lhe estou a prestar, vejo-o como uma forma branca de amenizar a brutalidade da morte.
A sensação de êxtase tomou conta de mim, evoluindo para um estado de puro deleite.A vitalidade da bela rapariga, escasseava-me entre os dedos, a aura lilás obliterava sobre as partículas de ar, de pó e de aroma.Sombrias alcançavam alturas imponentes, para longe do local de crise.
-Simm, simmm- uivei com um latir audível, um latir vociferável e rígido.Estava quase a findar, eu estava a meros segundos de completar a minha transformação plena e definitiva.
Não notei, não me apercebi de como o fizera.
A sua mão de alabastro tocou na minha, a que estava pousada na sua testa, como um trompa de vácuo, absorvendo o poder camuflado num corpo tão frágil.
Abri os olhos sobressaltado, retirei a mão como um estímulo prepotente, afastei-me para trás , para junto da janela.A minha reacção enfurecera-me, porém Arthemesia havia tocado num ponto fraco do meu ser.A minha mente, a minha alma.Como ousara tocar-me, como ousara interromper-me, e fugidiamente, limitar-se a entrar, a ver-me?
Rompi através da janela, adquiri a minha forma animal, e esvoacei através da cidadezita.
Fora completamente inadequado, não consegui liderar com o toque de súplica.
Mas como ?! Ela estava nas minhas mãos, ela era minha e estava prestes a tombar perante os meus pés, eu esvaziá-la-ia, eu far-lhe-ia um favor!Libertá-la-ia de todos os problemas, das crises profundas, dos sentimentos humanos trágicos , das felicidades falsas.
Raios, sentia-me lívido enquanto sobrevoava o limiar da cidade, decidira meramente por acaso atingir as colinas, para além do vale, necessitava de tempo , de fôlego, de manter a cabeça fria, e não deixar , principalmente, que os meus impulsos animais sobressaíssem e denuciacem o meu propósito.
Teria que anunciar o meu falhanço, e não me orgulhava muito da minha atitude.






J.C


sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ornatos de Arthemesia Cap.I

Silvam, pequenos e vastos ondulantes rebordos de fluorescência acendem-se na baía fértil.Passo a Passo, a luz incidia sobre as pedras da calçada que giravam inusitadamente em torno de eixos imaginários, latentes durante o Inverno, vivos durante a Primavera.Olhei-os subtilmente, a constância da sua calma prevalecia durante graves fôlegos rústicos de apelo ao luar, pesou-me a espera, virei o olhar.Relanceei dois pardais cinza nos frondosos plátanos, acima de quatro equinócios enclausurados no crepúsculo, cantarolavam melodias incertas com fulgor.O bico reluzia infortúnios e místicas sinceridades, ambos comunicavam com ternura.Pude vê-los como grandes amigos, parcialmente unidos por viagens longínquas em torno de vales e oceanos vorazes de ilusão sincera, a manhã reflectia o azul bruto faiscante no seu leito, no mar.
Instantaneamente desapareceram, prestei atenção aos galhos vazios próximos das abóbadas flutuantes, isto porque a sombra, a penumbra, conferia-lhe plácidas aspirações a movimento, sóbrios e rústicos no temor de mais uma alvorada.Senti-lhes falta.
A avenida permanecia coberta de plátanos sombrios e colossais, cedros, pinhais e murmúrios nocturnos, sim, era pois, uma noite incandescente que banhava os céus cobertos por negros mantos tumultuosos no esplendor de cristais assimétricos, ínfimos e cujo brilho me aquecia o rosto gélido.

Ornatos de Arthemesia Cap.I.


Que esplendorosos olhos negros semelhantes a poços profundos cujos segredos ardiam enterrados nos confins do mundo subterrâneo.
Emanava sabedoria da sua veste negra, com um tom cintilante, como se constituída por ínfimos quartzos róseos e topázios crisálidos incandescentes , que latentes, assobiavam serenatas ao longo das noites frias.Ousei estender a mão para tocar-lhe, aproximei o braço do muro pétreo.Temia que se afastasse de mim, temia perdê-la para o Universo infinito que tudo controlava, que tudo sabia.Estava tão próxima de alcançá-la, a minha pálida mão avançou com sigilo até junto da asa ofuscante.Os meus lábios esboçaram um ténue tranquilo sorriso, cheguei a crer que tolerava a minha presença.Era um avanço!
Por fim inclinei-me ligeiramente para a frente, fiquei descansada por não ser considerada uma 'ameaça'.Neste movimento encostei os joelhos ao muro raso, colocando o corpo em linha recta, afastei-me o mais subtilmente da bela criatura.Mantive o braço imóvel, havia hesitado involuntariamente, sem reacção, sem declive para agir.
-Não penses eternamente.-Anuí para mim mesma. -Não quero que se aperceba do meu receio.
Tomei fôlego e semicerrando os meus olhos conduzi a mão em direcção à sua asa de marfim negro.Abri-os de relance, enrubesci com a forma como me olhava, como se estivesse defronte uma incógnita, um ser cativo entre grades imperceptíveis.
-Não temas. -limitei-me a reforçar, nada me podia impedir de confortá-la.
J.C
Publicada por Joana em 05:43 3 comentários
quinta-feira, 8 de Abril de 2010

Ornatos de Arthemesia.

A noite caiu, por fim.O céu negro estava enfurecido, a coléra pulsava repercutindo-se em leves dós menores, súbitos.Os aromas fluviais escondiam-se por entre muralhas vazias, segui-os lentamente como se dançasse entre cadências quentes e gentis concebedias por fortes perfumes florais.Folhas secas sentiram a força da gravidade enquanto ladeavam segredos cantando refúgios lineares de um audaz sufoco quando atingiam as pedras da calçada.Pouco tempo depois, voltavam novamente a girar, e a subir mais alto, longe do chão e muito acima do oceano.As correntes estavam vorazes, recordo-me do bater profundo e monstruosamente furioso das ondas que salpicavam grandes gotas salgadas de pavor sobre terra firme, o cântico das sereias era inaudível pois, nessa noite a natureza morta induzia o seu forte espírito através de magníficas serenas sonoridades, gentis até, as quais ruminavam na minha mente.Progressivamente em crescendo, aumentavam a intensidade , ladeavam coreografias graciosas com uma coordenação plena.Nessa noite tudo era especial, tudo se tornara vivo.Eu por fim quedei-me num banco velho de praça, cuja tinta verde se soltara ao longo do tempo e os seus bordos arredondados continham mensagens ténues que prevaleciam intemporais, como morais ao vento impressos com belas caligrafias desgastadas.Encostei a cabeça e tudo o que fiz fora olhar para o céu, fi-lo vezes sem conta sentindo a magia, a conecção celeste.Senti, senti...uma bela criatura ao meu lado, quão magnífica, quão entorpecida estara na sua presença.
-Esperara por ti.-balbuciei com o mais leve suspiro.A bela criatura olhou-me penetrantemente. A partir de então estava certa.
Com efeito, procurava-me.

Ornatos de Arthemesia Cap.I

Que esplendorosos olhos negros semelhantes a poços profundos cujos segredos ardiam enterrados nos confins do mundo subterrâneo.
Emanava sabedoria da sua veste negra, com um tom cintilante, como se constituída por ínfimos quartzos róseos e topázios crisálidos incandescentes , que latentes, assobiavam serenatas ao longo das noites frias.Ousei estender a mão para tocar-lhe, aproximei o braço do muro pétreo.Temia que se afastasse de mim, temia perdê-la para o Universo infinito que tudo controlava, que tudo sabia.Estava tão próxima de alcançá-la, a minha pálida mão avançou com sigilo até junto da asa ofuscante.Os meus lábios esboçaram um ténue tranquilo sorriso, cheguei a crer que tolerava a minha presença.Era um avanço!
Por fim inclinei-me ligeiramente para a frente, fiquei descansada por não ser considerada uma 'ameaça'.Neste movimento encostei os joelhos ao muro raso, colocando o corpo em linha recta, afastei-me o mais subtilmente da bela criatura.Mantive o braço imóvel, havia hesitado involuntariamente, sem reacção, sem declive para agir.
-Não penses eternamente.-Anuí para mim mesma. -Não quero que se aperceba do meu receio.
Tomei fôlego e semicerrando os meus olhos conduzi a mão em direcção à sua asa de marfim negro.Abri-os de relance, enrubesci com a forma como me olhava, como se estivesse defronte uma incógnita, um ser cativo entre grades imperceptíveis.
-Não temas. -limitei-me a reforçar, nada me podia impedir de confortá-la.
J.C

Ornatos de Arthemesia Cap.IV.




Que cobardia, o meu corpo constraiu-se , por sinal, gelara da crudelidade dos meus actos.Os quadros impressionaram-me , as pinturas campestres pejadas de vivacidade, de boas energias, de paixão.Tudo findara para a rapariga.
As emoções não me impressionavam de todo, o mu intuito não cambiara.A questão era a seguinte, na luta do mais forte, os mais fracos têm que ser erradicados, visto que, a espécime fraca não deve permanecer intacta como Deus imortalizados em legados erróneos, ilusórios.A meu ver o real deve ser contornado por cores de ceras vivas como o nascer da manhã, e a perda, a derrota, devem ser sublinhadas para sempre, como, irrecuperáveis e inapagáveis defeitos humanos, ligeiros lapsos parvos lamentados e inesquecíveis.
Assim deveria ser, as guerras e batalhas perdidas têm que ser recordadas e vividas, aceites pela Humanidade, não há manobra para deslizes, para pacóvias sensações de felicidade, efémeras, escassas como a evaporação das gotas de orvalho matinais, que saboreiam meros minutos de felicidade ao estarem livres, sendo a liberdade uma percepção limitada da realidade, a liberdade não existe, a manipulação vence a capacidade do homem achar-se disperso e irresponsável.
Nada é assim, nada.
Estava escuro nos confins do seu sepulcro, Arthemesia dormir profundamente, por vezes murmurava vocábulos imperceptíveis, fugiam dos seus refúgios, tentavam alcançar a superfície, desmoronar longe da banalidade da fraqueza.Olhei-a novamente, estudei a expressão serena, que por vezes cambiava, principalmente quando as sobrancelhas arqueavam sem nexo em redor dos enormes olhos amendoados.
Sobretudo quando o fez, senti calafrios, estava irascível, fervilhava de vontade de arrancar-lhe o sopro da vida, que esta desenhava com uma respiração neutra, forçosa.Como queria destruí-la, não por detestá-la, mas por vê-la como um limite, um obstáculo defronte a minha completa criação, a completude.Sôfrego ergui-me sobre as lápides laterais da cama, encostei-lhe a mão fria na testa fervente de Arthemesia, a fonte vital era palpável, fechei os olhos, que trance , que absoluta sensação de poder.Nada se podia comparar, à quente luz jovem da rapariga, as cadência das orlas douradas perpetuantes subjugadas num corpo intrépido.




-Adeus.








J.C

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ornatos de Arthemesia Cap.IV


A noite por fim chegara, esvoacei pelos caminhos de pedra descalçada, cujas casas laterais estavam em ruínas e os telhados velhos gotejavam do pavor à tempestade.Orientei-me, a concentração era crucial para conseguir encontrá-la, a fragrância dos seus cabelos está ténue, quase que imperceptível, parei.Pousei-me num beiral de parapeito, era alto permitia-me obter uma visão abrangente da cidadezinha, a brisa quente aborrecia-me , a sua passagem neutralizava os aromas que tentava identificar.Profundamente, inspirei com intenção, tal situação impeçava a torna-se enfadonha.
Algo em mim denotou, quiçá um alarme, o meu coração encetou um bater acelerado e lívido, as minhas veias contraíram fazendo pulsar o fluxo sanguíneo com uma velocidade inatingível.
-Encontrei-te. -pensei para mim mesmo, tal 'imprint' significava o óbvio, a rapariga estava por perto, dentro dos meus alcances.
Iniciei o meu voo, desta vez, veloz como a luz no vazio, segui mecânicamente o aroma adocicado dos seus cabelos, subi uma rua estreita com pequenas casitas de madeira.Tal zona era inabitável, parecera-me a mim inóspita, porém os humanos têm diferentes formas de explorar as vertentes.Pobres criaturas, as suas lastimáveis emoções aprisionam-nos em subterfúgios metálicos, onde engaiolados, as presas, sofrem e pedem perdão pelos lapsos cometidos frequentemente.
Não passam de algo com uma natureza demasiado fraca.
Fraca demais.
Aquando a subia, verifiquei uma casa fora do usual.Parecia agradável em tons pastel, predominantemente um cor-de-rosa pastel velho, cujas paredes estavam cobertas por heras verde floresta, enegrecidas pelo negrume do eclipse lunares.Um jardim espectral rodeava o seu perímetro, muitas árvores, muitas flores, arbustos e plantas herbáceas.Janelas colossais destinguiam-na, os vidros polidos reflectiam um ligeiro tom de violeta de um quarto situado no último andar, onde havia uma varanda simples e sóbria.Aproximei-me com alerta, cessei movimento no jardim.Olhei em redor, subitamente vi artemísias, plantas herbáceas silvestres incrivelmente raras, tons fushia e magenta coloriam as pétalas alvas e despigmentadas nas extremidades.
J.C

School comeback


Boa tardeeeee!

Hoje regressei às aulas, com a rotina cansativa de sempre e efusão de sensações de pressão e irritabilidade.Já amanhã tenho um 'mini-teste' de português, infelizmente de 45 min o que é terrorífico.Como trabalhos de casa tenho que pesquisar publicidade e os autores africanos que estivemos a falar durante a aula de inglês, em filosofia terei que elaborar um trabalho acerca de um problema Científico, e além disso, para a semana apresentarei a minha crónica acerca do fim do sol.Como se não bastasse, ainda terei que elaborar a apresentação de português!
All at once, aproveitarei e procurarei qualquer coisa acerca disso.



Bom trabalho, espero.

domingo, 11 de abril de 2010

Capítulo I




Novo, tudo era novo.




O dia brilhava solenemente, sol apartava as decadentes nuvens pungentes cujo manto selava o brilho celeste do Patriarca solar.O cheiro marinho espraiava através da baía, assolando partículas inertes no seu leito.Leves sulcos de amargos aromas condensavam sisudas sensações de sossego onde a solitude dos pássaros ardia no negrume da maré.
Sentei-me num banco frio de mogno, suspirei por fim.Bem alto soltei uma gargalhada postiça por entre os lábios violeta que cingiam pequenos pedaços de do imunes ao escarlate tom das vigorosas estrelícias que encantavam os adocicados zumbidos das abelhas mestras.Estas encadeadas por sinfonias de pardais rupestres empoleirados nas arvóres insensíveis que cuja sombra massacrava os passeios e as ovais pedras da calçada.
Senhoras murmuravam o desconforto que tais provocam, contudo não assumiam a negligência do uso dos stilettos cor de cinza com reflexos em vinil.
Animei o meu intelecto com tudo o que havia visto naquela minha primeira tarde de Primavera, onde desejara nunca ter estado, onde culpara o tempo por entregar-me tal incumbência.
Dificilmente me fora esclarecida a necessidade de tão brusca viagem.

J.C