sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ornatos de Arthemesia Cap.I

Que esplendorosos olhos negros semelhantes a poços profundos cujos segredos ardiam enterrados nos confins do mundo subterrâneo.
Emanava sabedoria da sua veste negra, com um tom cintilante, como se constituída por ínfimos quartzos róseos e topázios crisálidos incandescentes , que latentes, assobiavam serenatas ao longo das noites frias.Ousei estender a mão para tocar-lhe, aproximei o braço do muro pétreo.Temia que se afastasse de mim, temia perdê-la para o Universo infinito que tudo controlava, que tudo sabia.Estava tão próxima de alcançá-la, a minha pálida mão avançou com sigilo até junto da asa ofuscante.Os meus lábios esboçaram um ténue tranquilo sorriso, cheguei a crer que tolerava a minha presença.Era um avanço!
Por fim inclinei-me ligeiramente para a frente, fiquei descansada por não ser considerada uma 'ameaça'.Neste movimento encostei os joelhos ao muro raso, colocando o corpo em linha recta, afastei-me o mais subtilmente da bela criatura.Mantive o braço imóvel, havia hesitado involuntariamente, sem reacção, sem declive para agir.
-Não penses eternamente.-Anuí para mim mesma. -Não quero que se aperceba do meu receio.
Tomei fôlego e semicerrando os meus olhos conduzi a mão em direcção à sua asa de marfim negro.Abri-os de relance, enrubesci com a forma como me olhava, como se estivesse defronte uma incógnita, um ser cativo entre grades imperceptíveis.
-Não temas. -limitei-me a reforçar, nada me podia impedir de confortá-la.
J.C

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