sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ornatos de Arthemesia Cap.I.


Que esplendorosos olhos negros semelhantes a poços profundos cujos segredos ardiam enterrados nos confins do mundo subterrâneo.
Emanava sabedoria da sua veste negra, com um tom cintilante, como se constituída por ínfimos quartzos róseos e topázios crisálidos incandescentes , que latentes, assobiavam serenatas ao longo das noites frias.Ousei estender a mão para tocar-lhe, aproximei o braço do muro pétreo.Temia que se afastasse de mim, temia perdê-la para o Universo infinito que tudo controlava, que tudo sabia.Estava tão próxima de alcançá-la, a minha pálida mão avançou com sigilo até junto da asa ofuscante.Os meus lábios esboçaram um ténue tranquilo sorriso, cheguei a crer que tolerava a minha presença.Era um avanço!
Por fim inclinei-me ligeiramente para a frente, fiquei descansada por não ser considerada uma 'ameaça'.Neste movimento encostei os joelhos ao muro raso, colocando o corpo em linha recta, afastei-me o mais subtilmente da bela criatura.Mantive o braço imóvel, havia hesitado involuntariamente, sem reacção, sem declive para agir.
-Não penses eternamente.-Anuí para mim mesma. -Não quero que se aperceba do meu receio.
Tomei fôlego e semicerrando os meus olhos conduzi a mão em direcção à sua asa de marfim negro.Abri-os de relance, enrubesci com a forma como me olhava, como se estivesse defronte uma incógnita, um ser cativo entre grades imperceptíveis.
-Não temas. -limitei-me a reforçar, nada me podia impedir de confortá-la.
J.C
Publicada por Joana em 05:43 3 comentários
quinta-feira, 8 de Abril de 2010

Ornatos de Arthemesia.

A noite caiu, por fim.O céu negro estava enfurecido, a coléra pulsava repercutindo-se em leves dós menores, súbitos.Os aromas fluviais escondiam-se por entre muralhas vazias, segui-os lentamente como se dançasse entre cadências quentes e gentis concebedias por fortes perfumes florais.Folhas secas sentiram a força da gravidade enquanto ladeavam segredos cantando refúgios lineares de um audaz sufoco quando atingiam as pedras da calçada.Pouco tempo depois, voltavam novamente a girar, e a subir mais alto, longe do chão e muito acima do oceano.As correntes estavam vorazes, recordo-me do bater profundo e monstruosamente furioso das ondas que salpicavam grandes gotas salgadas de pavor sobre terra firme, o cântico das sereias era inaudível pois, nessa noite a natureza morta induzia o seu forte espírito através de magníficas serenas sonoridades, gentis até, as quais ruminavam na minha mente.Progressivamente em crescendo, aumentavam a intensidade , ladeavam coreografias graciosas com uma coordenação plena.Nessa noite tudo era especial, tudo se tornara vivo.Eu por fim quedei-me num banco velho de praça, cuja tinta verde se soltara ao longo do tempo e os seus bordos arredondados continham mensagens ténues que prevaleciam intemporais, como morais ao vento impressos com belas caligrafias desgastadas.Encostei a cabeça e tudo o que fiz fora olhar para o céu, fi-lo vezes sem conta sentindo a magia, a conecção celeste.Senti, senti...uma bela criatura ao meu lado, quão magnífica, quão entorpecida estara na sua presença.
-Esperara por ti.-balbuciei com o mais leve suspiro.A bela criatura olhou-me penetrantemente. A partir de então estava certa.
Com efeito, procurava-me.

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